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NÃO ÀS IMAGENS GERADAS POR IA

Eu tenho acompanhado e feito vídeos sobre o desenvolvimento da IAs geradoras de imagens desde o ano passado, e a evolução das ferramentas e seus resultados são surpreendentes, por vezes inspiradores, mas sempre assustadores. Foram de divertidos experimentos, manchas desconexas, junções impensadas, para reproduções que podem passar despercebidas pelos olhos de muitos (não repare nas mãos, por favor).

Porém ultimamente falar sobre o assunto ficou cada vez mais difícil, pois o cenário que se desenrolava parecia cada vez mais sinistro, de muitas maneiras: As possíveis transformações dos mercados, a ética (não) envolvida no uso das imagens dos artistas humanos no treinamento dos modelos de inteligência das Ias, o desemparo frente uma classe desunida que não tem as mesmas proteções que a industria fonográfica, a nova pressão gigantesca em todos os iniciantes que acabaram de começar a sonhar, a instabilidade política e econômica de um mundo afetado por uma pandemia. Lidar com todas as possíveis tensões e emoções de todos nós impactados é uma grande responsabilidade, e tão difícil pra mim também.

Independente da inevitabilidade ou não da implementação desse tipo de tecnologia no nosso futuro profissional, se você acha que vale ou não a pena se posicionar contra ou a favor, o Artstation, a maior plataforma de portfólios profissionais de tantos mercados criativos, onde pude me conectar e encontrar oportunidades, tem um papel fundamental em reagir, e com velocidade, à essas mudanças, com novas ferramentas e regras. E essa imagem aqui, pintada a minha maneira, é só mais uma forma de reforçar esse recado a plataforma e também a todos que me seguem aqui.

Não estamos prontos. Nem os artistas, nem as plataformas, nem as empresas, nem as legislações dos países para lidar de forma adequada com essa nova forma de produção, que tem o potencial de impactar toda uma classe profissional, e mudar como nos relacionamos com as imagens que vemos. Se tenho que tomar uma posição, frente a esse ritmo frenético, certamente será ao lado dos meus colegas de profissão, de meus professores e mentores, dos meus alunos e inscritos. E não a promessa de progresso (para quem?) a qualquer custo. Ao nosso custo.

É importante reforçar também que os artistas profissionais não se limitam a meros técnicos, pelo menos não os memoráveis. Eles têm uma perspectiva própria que EMANA do seu processo criativo, e é perceptível no seu resultado. A forma final da imagem é nada se não a cuidadosa tomada de decisões constantes equilibrando uma gama de fundamentos, de composição, desenho, cor e finalização. Como fazemos é tão importante quanto como fica um trabalho, a pessoalidade que ressoa é uma das formas mais importantes de se expressar como pessoa nesse mundo.

E no meio profissional é desse vai e vem de alterações, propostas, soluções e tentativas que surge também a possibilidade de criar, e introduzir novas ideias, de forma progressiva, em sintonia com diretores de arte e colegas de trabalho.

Por isso creio que seja importante que a plataforma, se não banir de fato essas imagens artificiais, sem retoques ou qualquer desenvolvimento, ao menos separe e permita aos usuários filtrar essas produções que simplesmente podem inundar todo o feed, já que são cuspidas em segundos, uma atrás da outra. Deixar o flood IA tomar conta da plataforma seria simplesmente um prejuízo imenso a todos que de fato trabalham na área, e um desestímulo completo a continuar por aqui.

Vejo que ao menos, o Artstation parece já ter se posicionado contra o uso dos dados dos seus usuários de forma indiscriminada por essas empresas, com a proposta das tags que autorizem ou não o uso por IAs. Mas está a depender dos próximos passos ver o que sobrará desse ambiente, e da falta que ele fará. Estamos de fato num momento de grandes transformações e incertezas, tenho medo de tudo que pode vir a acontecer, mas não pararei de criar, estarei lá com vocês nesse futuro, seja ele como for.